segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Procurando...

Preciso descobrir o que é em mim que escreve. E o que é isso que me faz hesitar por tão longos períodos de mudez.

A mudez da pena é o motim da alma em não se expressar.

O torpor semialcóolico tenta me induzir, quase que a força à saída deste exílio interno.
Sou compelido a falar, pois que o delírio parece muito mais são que a mente que calcula.

Existe um limiar entre o profano e o sagrado que me faz pensar que o único e verdadeiro caminho rumo à santidade é o próprio pecado.

Há algo de extremo em tudo o que sinto e penso, e cá fora tudo parece tão lento e mórbidamente distante. Peco quando não penso no profano. Peco quando não me toca o profano. Peco quando não estou imerso naquilo que me traz a maior repulsa. Peco quando não estou pecando.

Tudo são nuvens e tudo é o todo do nada, sonho, devaneio e desperdício... Tudo tão necessário. Viver é preciso, a despeito de sua imprecisão, viver é navegar em nuvens e fingir que tudo é sério, viver é essa sensação de ter sempre uma sensação.

E o que há em mim que não escreve...?


quarta-feira, 9 de março de 2011

Vivo

IVivo em um mundo ambiguamente dúbio. Onde o corpo persegue lentamente os pensamentos.
Mesmo o cérebro cansado se arrasta passos atrás do pensamento.
Hoje é um dia como nenhum outro, porque me esqueci de mim mesmo um pouco e me lembrei um pouco mais de quem eu sou.
Se me parce mesmo que a morte é uma questão de escolha, então escolho viver até que ela não me esqueça.
A dúvida é o que me faz prosseguir acreditando e o próximo passo é ter a certeza de que nada continua o mesmo; em particular, mudam as certezas.
Vivo, e a cada passo, próximo, pretérito ou futuro, seguirei, segui e sigo, nessa mesma desordem, insistindo no desconhecer o que pode ou deixaria de ser.
Vivo e não nego, pago quando já não mais puder deixar de ser assim...


terça-feira, 1 de junho de 2010

Moments

They see each other for the first time. Their eyes lock, time stops.
A feeling that they have seen each other before, but their eyes had never yet met.

He moves towards her, they speak and laugh... All is so pleasant.
When they least realise night's darkish blue is giving way to reddish rising sun.

Not long ago, it was twilight... a reverse sunrise reflected on a lake. They look just the same.
It's hard to find out how one moment skipped out into the other...

As if awaking from a lucid dream, they realize several moments have passed, and what remains of these in the now - the ever fading now - are but flashing images of a fly-by-night.

A kiss... Even a long kiss
The most ephemeral of all things precious
Sits ouside time in our memories
So frugal and volatile, and yet it lingers on
We can only tell it is real for its after effects

Like miniscule particles in the universe of an atom
It is born, it lives, so fast and fleeting
All we ever see of it are the trails of an existence left behind...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Crônica de vários dias (vá dias!)

Os dias se passam, desorganisadamente.
Outro dia eu estava contando as migalhas e descontando o circo do pão.
Paga-se muito caro hoje em dia para não viver.
Não vive-se na maior parte do tempo; apenas faz-se.
A impressão que tenho é que o único momento em que se vive é quando se tem prazer... Com isso surge um paradoxo, pois embora viver não seja o mesmo que o mero fazer, há coisas em que o prazer está no fazer.
Fazer de manhã ao acordar,
fazer ra (arfa)
pi (tira)
da (põe)
men (vai)
te (fui!)
no almoço,
fazer na janta, fazer antes de dormir.
Sem reticências.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

À beira da vida

É simples assim, quando vi, estava tudo acabado
.
Restavam apenas as roupas rasgadas e espalhadas pelo quarto.

Só não consigo me lembrar de como tudo começou.

Há dois dias eu andava pela cidade, absorto em pensamentos, apenas tentando esquecer.

Como é que foi que deixei chegar a esse ponto?

Tudo começou tão bem, era princípo de uma vida nova, mas a felicidade parece vir acompanhada de uma boa dose de anestesia.

O corpo (cheio) de desejos se deixa adormecer em torpor... e nem sempre acordamos com vida.

Vários foram os meses, anos talvez, que passei adormecido nessa prazeirosa lassidão.

Quando me dou conta, vejo apenas os restos de uma longa noite insandecida.

Acordo então, à beira da vida, a tempo de perceber que é quase tarde de mais.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uma vida que se importa

Não sei bem por onde começar. Não sei por que, mas o que antes importava, hoje já não faz tanta falta.

Não é niilismo nem falta de sentido, é apenas um tudo que sobra e já não me preenche.

Uma vida trazida lá de fora, que já não mais me toca. Embora eu insista em estender o braço e pedir sempre mais... e continuar a receber farta esmola.

Não sei se a vida tem regras, mas sei que há leis dentro e fora dela.

Ah, se eu tivesse uma regua grande o bastante para tomar medida das minhas ações...

Sei que tudo parece muito rígido e sólido, mas as consequencias são tão fluidas e insólitas que ás vezes são como as notas de uma canção, se estendendo a longas distâncias e, por onde passam, tem-se a impressão de estarem em toda parte.

Uma vida que vem lá de fora.

Uma vida que se importa lá de fora do sentir.

Uma vida que nem sempre importa...

domingo, 20 de setembro de 2009

Con-dicion-AR!

Vive-se muito e o tempo inteiro sob o fardo peso de um constante condicionar.

Ar, dentro e fora, o tempo inteiro, quase vive-se em condições atmosféricas opressivas.

O tempo inteiro e mais uma vez, de novo o mesmo, a condição imposta, dentro e fora.

Essa co-operação, mútua vigilância, do pensamento, do corpo, do sentir e do amar.

O tempo inteiro e novamente.

Quero mais, mas não preciso.

O tempo inteiro.

Eu vivo e vejo, mas será e quando, como é que eu sinto?

Condição para isso, forma para aquilo, "é assim que se faz meu filho", "é isso aí meu irmão"... e por aí vai, mil frases de aprovação quando se faz do jeito esperado, quando não se faz como se quer, mas como se deve.

Se deve... mas não como é devido e ético, e sim em uma forma de débito implícita. Se deve ao outro, se deve ao nada, pois o outro é você, e você esperando que o outro espere, como em um jogo de espelhos em que as imagens se projetam ao infinito, refletindo o lugar nenhum.

Ah! Condicionar!
Até o ar é condicionado.
Condicionado pela respiração curta, apressada e desesperada.
Apressado por uma necessidade, sabe-se lá de quê, sabe-se lá pra quê.

Ah! Con-dicionário de palavras mudas, não faça isso, faça aquilo, pois é assim que todo mundo gosta, é assim que todo mundo quer.

Ah, eu não me importo, quero ar e não condições, prefiro condimentos e o sabor da vida.

Outro dia uma amiga me fez lembrar que o querer às vezes pode ser tão intenso que tira o gosto das coisas.

É melhor então fugir para a abstinência, disse ela meio sem fé...
Que se faça disso então um mantra, brincamos nós, amigos, para amenizar com piada essa angústia que ora ou outra também sentimos:

"abstinência, abstinência, abstinência..."

Que é para atrair exatamente aquilo que pensamos querer...

Ou será que querem por nós?
É, é assim mesmo... mesmo quando não queremos, nos querem POR-NÔS.
Mesmo que cansados e remendados, quando o que mais precisamos é de AR, e não desse CONDICION-AR, seu e nosso de cada dia.